A frota de ônibus no Distrito Federal é abastecida por seis empresas. Uma delas, a Viação Piracicabana tem uma particularidade: o Projeto Cultura no Ônibus. O trabalho foi idealizado pelo cobrador Antônio da Conceição Ferreira, de 43 anos. Ele desenvolveu mini expositores de papelão, fixados no interior dos ônibus, com três bolsos de plástico, onde os livros são disponibilizados aos passageiros.
O projeto foi criado em 2003 e conta hoje com cerca de 8.000 títulos. Antônio do Livro, como é popularmente conhecido, estima que aproximadamente 4 milhões de pessoas já foram alcançadas. “No início eu deixava um livro sobre a caixa, onde é guardado o dinheiro das passagens, lembro que o primeiro foi Capitães de Areia de Jorge Amado, quando surgia algum passageiro perguntando o porquê do livro estar ali, eu oferecia o livro como empréstimo”, afirmou.
Não demorou muito e começaram a surgir as primeiras doações dos próprios passageiros. “Os livros ficavam dentro de uma caixa de papelão embaixo da catraca. Depois, elaborei essa nova apresentação e com a ajuda financeira da empresa pude transformar meus planos em realidade”, conta.
De acordo com o mestre e doutor em Educação, Célio Cunha, a colaboração de uma biblioteca móvel, dentro de um ônibus, pode contribuir para elevar o número de leitores e, desta forma, reforçar também o aumento da consciência sobre a importância da leitura. “O projeto do Antônio pode ainda servir de exemplo para as escolas, pois se um cobrador de ônibus está tomando essa iniciativa, significa que instituições escolares precisam com a urgência promover a educação para o desenvolvimento do hábito de leitura entre os estudantes”.
Cunha complementa que atitudes como a de Antônio estão dando um grande exemplo de cidadania, sobretudo para uma boa parte da elite que não valoriza a leitura. “Monteiro Lobato já dizia em seu tempo, que a pessoa que lê vale por duas. Esse lema continua de impressionante atualidade. Precisamos formar uma sociedade leitora”, reiterou.
Antônio do Livro conta que nem sempre seus sonhos foram realizados tão “facilmente”. Nascido no interior do estado do Maranhão sofreu muito antes de chegar a capital do país, em 1993, quando sua vida começou a mudar. “Cheguei a trabalhar como escravo no Maranhão, até que decidi vir à Brasília procurar por um futuro melhor”.
Pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”
Comprovando a importância de projetos como o de Antônio do Livro, a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” realizada desde o ano de 2001, pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) traz dados que podem ser considerados alarmantes.
Em três meses apenas 28% da população, de 5 a 70 anos, leram um livro inteiro, destes 21% leem por obrigação escolar. Entre os entrevistados de 5 a 17 anos, 64% afirmam não ter lido nenhum livro por vontade própria.
A pesquisa realizada anualmente tem como objetivo colaborar para a criação e avaliação de políticas públicas no país, bem como conscientizar a população da importância do hábito da leitura para a formação da cidadania.
Para o futuro, Antônio do Livro planeja expandir seu trabalho com oficinas literárias, eventos comemorativos e contadores de histórias para crianças, tudo isso na Rodoviária do Plano Piloto, onde está localizada a sede do projeto. Estuda ainda escrever seu próprio livro e após isso criar uma revista literária. Os interessados em doar livros para o projeto podem entrar em contato com o telefone (61) 9870-2968, pelo e-mailantoniodolivro@gmail.com ou diretamente nos ônibus que possuem as bibliotecas.