Projeto Cultura no Ônibus
Carlos de Lannoy / Romildo Gomes
Antônio cresceu trabalhando na roça, no interior do Maranhão. “A gente chegava à tardezinha e ia ao colégio. Interessado mesmo, sabe? Eu sempre digo que só a educação dá uma vida melhor para o ser humano, né?”, conta o cobrador de ônibus Antônio Conceição Ferreira.
Vida melhor é um quarto e sala, no fundo de um terreno, onde mora com a mulher e dois filhos, o emprego de cobrador e os livros. “A minha idéia começou quando eu coloquei um livro em cima da caixa do cobrador. O passageiro olhava, lia o título. Eu ficava só observando”, lembra.
Só que Antônio também era observado: “teve uma senhora, passageira, que ficou olhando, chegou perto e perguntou se eu gostava de ler”.
Um dos livros que ganhou da passageira foi Capitães de Areia, que deu novas certezas pra Antônio. “Eu fiquei preocupado com os meus filhos, de ver a história daquele livro”, diz.
Da certeza, uma ideia. “O ônibus tem espaço suficiente pra levar a cultura, a leitura, aos pais de família, para que assim eles estimulem os seus filhos”, afirma.
E de doação, em doação, de repente Antônio tinha uma biblioteca em sua casa e um leitor muito especial. “Eu sempre falava para o meu filho escolher um livrinho interessante pra ler”, lembra. “Eu gosto de ler o livro de carros, do Saci e do Curupira”, diz Matheus Lopes Ferreira, 8 anos.
Os vizinhos foram chegando. “Eu achei essa ideia maravilhosa. Pelo livro a gente tem pra ler”, afirma o colega cobrador Luiz Gonzaga.
Plásticos protegem da chuva dezenas de romances, livros de alto ajuda e a coleção completa de Jorge Amado. A biblioteca cresceu e foi descolada para o outro lado da rua, num quartinho alugado. São pilhas e mais pilhas de livros e revistas, quatro mil títulos que valem mais que o salário de R$ 569.
“Eu pago o aluguel de R$ 280, tiro R$ 120 para pagar o lugar onde fica o acervo e o resto é pra dar o sustento pra minha família”, conta o cobrador.
Com o acervo garantido, Antônio levou a paixão pra o local de trabalho. Livro de graças para os passageiros lerem durante a viagem ou levarem pra casa. No início, ele ficou com medo de fixar o porta livros no ônibus, achou que alguém poderia até reclamar. Mas, a biblioteca itinerante já tem quase um ano e, até agora, o cobrador só tem recebido elogios.
“Mesmo de pé, com o ônibus lotado, sempre pego um livro. O tempo passa mais rápido”, diz a operadora de telemarketing, Adriana Leandro.
Quem pegar um livro pra ler precisa anotar o nome em uma ficha e só devolve quando quiser. “Não cobro nada. É apenas um incentivo pra leitura, para o trabalhador tenho um poder crítico, que incentive os seus filhos para o caminho da educação”, enfatiza Antônio Conceição.